A endometriose é um agravo invasivo à saúde da mulher, ainda com prevalência desconhecida. Estima-se que acomete até 10% das mulheres em idade reprodutiva. As manifestações clínicas mais comuns são: dor pélvica crônica, infertilidade, dispareunia (dor pélvica profunda durante atividade sexual), dismenorreia e queixas intestinais ocasionais ou ausentes.
Que é a endometriose intestinal ou profunda?
A endometriose intestinal é a presença de células endometriais principalmente, no cólon retossigmoide e na região retrocervical (fundo de saco), com apresentação de nódulos fibróticos profundos até os ligamentos uterossacrais. De forma menos comum, incide no intestino delgado (íleo terminal) e no apêndice. Segundo a American Society of Colon and Rectal Surgeons (ASCRS), o comprometimento do intestino ocorre em 12% a 37% dos diagnósticos moderados a graves de endometriose. Os sintomas comuns da doença no retossigmoide são constipação, diarreia, sensação de evacuação incompleta, com ou sem dor, diminuição do calibre das fezes e, raramente, sangramento retal e obstrução intestinal. O diagnóstico é estabelecido por meio do exame complementar de ressonância magnética pélvica e ultrassom transvaginal com preparo intestinal, para mapeamento da endometriose profunda. É valido ressaltar, a importância da colonoscopia diagnóstica para afastar as patologias colorretais benignas e malignas. Desse modo, podemos afirmar que o manejo clinico pré-operatório pode ser indicado de 3 a 6 meses, objetivando reduzir a inflamação e o tamanho dos focos endometriais. O tratamento da endometriose baseia-se na gravidade e nos tipos de sintomas. Para lesões superficiais, a técnica cirúrgica consiste na ressecção parcial da parede do reto, sem penetrar na mucosa- técnica SHAVING; para lesões isoladas com diâmetro de até 3 cm, a técnica designada é a excisão do foco endometrial por retirada de um disco da parede do reto – DISCOIDE; para lesões maiores retovaginais de infiltração profunda, de caráter multifocal ou em suspeita de neoplasia, é indicada a RESSECÇÃO SEGMENTAR, uma técnica de execução e de manejo mais complexos. A avaliação da resposta cirúrgica é efetivada com resolução ou melhora da dor pélvica pré-operatória e com reversão da infertilidade.
Em nossa experiência de tratamento cirúrgico da endometriose profunda, nos últimos 12 anos, foram realizadas mais de 200 cirurgias de retossigmoidectomia (retirada de parte do intestino). Logo, pôde-se constatar que essa doença tem particularidades e requer uma condução terapêutica efetiva, desde o preciso diagnóstico até a escolha e a execução da técnica mais adequada ao caso. O tratamento é habitualmente multimodal e conta com atenção multidisciplinar, devendo ser conduzido por uma equipe treinada e experiente, o que confere sucesso terapêutico. Destaca-se, nesse grupo profissional, a importância do coloproctologista dedicado ao tratamento da endometriose profunda, a fim de tornar segura essa abordagem complexa.
TARCISIO CARNEIRO
Coloproctologista | Endoscopia Digestiva
CRM/PB 4366 | RQE 3544 | RQE 3545