O impacto das novas tecnologias na prática e no ensino médico
A Medicina como conhecemos hoje não é a mesma de 30 anos atrás e, com certeza, estará bem diferente daqui a 30 anos.
Os avanços tecnológicos que surgem, todos os dias, na área médica, estão mudando radicalmente o paradigma da relação médico-paciente, bem como instituindo uma nova face aos atendimentos e aos tratamentos, nas diversas áreas da saúde.
Quem imaginava, há 30 anos, um paciente, no interior do Amazonas, ser atendido por um médico em São Paulo? A telemedicina hoje é uma realidade e um importante instrumento, para atender populações onde a assistência à saúde é difícil e precária. Hoje, é possível realizar um eletrocardiograma em Rio Branco, e o cardiologista avaliá-lo, em Porto Alegre, em questão de minutos. O mesmo se equivale a exames laboratoriais e aos métodos de diagnóstico por imagem.
Falando em métodos de diagnóstico por imagem, esses, com certeza, foram um dos que mais se beneficiaram com os avanços tecnológicos. A qualidade do exame atualmente permite uma avaliação completa da anatomia humana e vem avançando exponencialmente para a avaliação fisiopatológica das enfermidades. Os avanços na ressonância magnética, por exemplo, têm permitido uma avaliação funcional de nossos órgãos como jamais vista e esses avanços crescerem, a cada dia, em progressão geométrica. Em breve, o radiologista será um “patologista digital”, que conseguirá chegar a uma definição quase histológica, além de funcional, das mais diversas doenças que atingem o ser humano.
A inteligência artificial tem ajudado, cada vez mais, nesses avanços, permitindo ao radiologista caracterizar, com maior precisão, as mais diversas enfermidades.
Por ser uma das especialidades médicas que mais está envolvida com o segmento tecnológico, o radiologista, com certeza, terá um papel de destaque nessa Medicina do futuro e, provavelmente, será um dos maestros nessa nova fase dos métodos de diagnóstico.
Mas só a radiologia? Claro que não! Todas as áreas serão atingidas, como vocês acham que o oftalmologista irá verificar o grau de sua miopia? Como o endocrinologista irá calcular e administrar sua dose de insulina no futuro?
E a cirurgia? Muitos dirão que não há como a cirurgia mudar tanto! Será que não?
Cirurgias robóticas têm avançado de maneira exponencial, e tratamentos endoscópicos e endovasculares, para evitar cirurgias abertas, são a bola da vez… Cirurgias de varizes hoje se fazem, colocando espuma, isso mesmo, espuma, para tratar varizes… Quem imaginaria, na década de setenta, que você corrigiria a miopia de um paciente com uma cirurgia a laser?
Softwares têm tentado substituir até consultas clínicas. Existem programas em desenvolvimento, nos quais o paciente é orientado a colocar seus sintomas e achados laboratoriais em uma plataforma, que apresenta uma série de diagnósticos diferenciais para sua enfermidade. Isso representa um risco à saúde de muitos pacientes, que podem achar que um software é capaz de substituir uma avaliação clínica com um exame físico.
O ensino médico, por sua vez, também precisa estar a par de toda essa evolução. É de fundamental importância que se adapte a essa nova realidade, para que a formação desse profissional seja adequada e o novos médicos saibam interagir com todo esse avanço tecnológico que surge, a cada dia, em suas áreas.
Precisaremos de menos médicos no futuro? Em um futuro próximo, acredito que não… As máquinas, sem dúvida, irão nos ajudar a dar diagnósticos mais precisos e a realizar intervenções cirúrgicas cada vez menores, com resultados cada vez melhores. Mas, nenhuma máquina pode substituir um dos bens mais preciosos do ser humano: o discernimento…
CARLOS FERNANDO DE MELLO JÚNIOR
Radiologista
CRM/PB 6884 | RQE 5552