Estamos vivendo tempos onde esse tema faz-se presente em todos os momentos de nossas vidas. Atletas, profissionais liberais, bancários, entre outras profissões, começam a se preocupar com a saúde mental, propondo-se, inclusive, a pararem suas atividades e diminuir seus salários ou, até mesmo, mudarem de profissão em nome dessa “saúde mental”.
O que significa ter saúde mental? Onde encontramos isso? De que forma podemos identificar que precisamos cuidar de nós mesmos? Quais os alarmes que nos alertam para essa necessidade? Qual a verdadeira hora de mudar?
Perguntas como essas são sempre a nós direcionadas nos consultórios, nas rodas de amigos ou, até, em entrevistas e aulas ministradas. Cada vez mais o psiquiatra é colocado como a fonte de busca para identificar, orientar e definir se há ou não algum “problema com a saúde mental”, e isso se torna importante no contexto mais que comum de outros personagens que tem sempre a “fórmula do sucesso” para todos, de forma igualitária, como se todos fossem iguais. Não se pode, portanto, inferir que aquele que padece de patologia psiquiátrica pode fazer igual a todo mundo, pois cada um de nós define o próprio caminho, o seu ideal de vida, a sua dinâmica de cotidiano, a sua forma de ser feliz. Identificar se essas escolhas não são condizentes com uma boa saúde mental pode ser, sim, a tarefa do psiquiatra, mas sempre diante de uma queixa do paciente e não de um “conselho”, de uma diretriz, ou até mesmo de uma psicoterapeuta. Cada um de nós sabe quando algo está errado consigo mesmo.
Ter saúde mental é estar bem consigo, com os amigos, com a profissão, com seus objetivos. É poder se dar o direito de desfrutar de si mesmo, é entender que existem limites e que não pode ultrapassá-los, sob pena de falência física e/ou mental. É poder dizer “não” quando for importante dizer, sobretudo quando esse “não” for protetivo consigo mesmo, é entender que não se pode viver sempre no limite, porque a própria reação do corpo ao estresse nos alerta para que possamos parar e mudar de rumo, seguir por outra estrada. E isso não significa falhar, muito pelo contrário: significa ser assertivo e reconhecer que podemos mudar, afinal somos seres que se adaptam às condições adversas e nos moldamos às novas situações. Portanto, ter saúde mental é, sobretudo, cuidar de nós mesmos em primeiro lugar.
Encontramos saúde mental na atividade física cotidiana, no lazer regular, nas férias, nas relações com os amigos, na vida social, na leitura despretensiosa, no ócio de um dia cansativo, na imaginação, em um passeio a uma praia, em uma ida ao shopping ou, simplesmente, observando-nos em nosso cotidiano, o quanto nos preocupamos conosco, o quanto precisamos mudar e se isso for necessário para sermos felizes. Também é possível depararmo-nos com a saúde mental em singelos atos como perdoar, pedir desculpas, buscarmos o que nos faz felizes com quem quer que seja. E também pela conquista de um trabalho ou objeto. Serão sempre momentos de felicidade onde encontraremos a saúde mental.
Identificamos que precisamos nos cuidar quando o corpo nos reclama descanso; quando o cérebro não nos deixa concentrarmos como fazíamos antes; quando percebemos que não conseguimos ter tempo para fazer algo que de muito gostávamos; quando o prazer, mesmos nas coisas que antes nos preenchia, desaparece ou é substituído pelo dever; quando o sorriso já não é mais franco e a atitude agora parece rara; quando a tomada de decisão passa a ser um tormento e quando a dor da alma suplanta a dor do corpo.
O corpo nos envia alarmes, que são dores, contraturas, crises de choro, angustias, cardiopatias, doenças gástricas cada vez mais ligadas a ansiedade, sintomas neurológicos, incontáveis desconfortos físicos. Mas o que nos mais faz ouvir o corpo é quando o cérebro não nos obedece mais ou quando o simples fato de sentir passa a ser raro e não nos reconhecemos como sendo felizes. Assim, abate-nos uma falta de sentimento e prazer. Prazer esse que já não existe e, no lugar dele, surge a dor.
A verdadeira hora de mudar é quando você não se sente mais feliz com quem é ou com o que faz. Nesse momento é preciso parar, observar e mudar. O sentido da vida está em ser feliz, mesmo que para isso precisemos abandonar o que achamos impossível de viver sem, mas o preço da felicidade é apenas buscar momentos felizes, pois assim sua essência nunca será esquecida e seu instinto de sobrevivência mostrará que o caminho a ser seguido perpassa pela manutenção saúde mental. Não nos limitemos na busca para a felicidade e jamais esqueçamos de estar sempre atentos aos limites que eventualmente emergem em nosso percurso.
Dr. Alfredo Minervino
Psiquiatra
CRM/PB 4632 | RQE 3424