Ultrassonografia na Harmonização Orofacial e na Cirurgia Bucomaxilofacial.
O ultrassom é um exame complementar não invasivo muito utilizado na Medicina para: auxiliar no diagnóstico, plano de tratamento, acompanhamento gestacional, entre outros. A principal vantagem dessa tecnologia é que não se utiliza emissão de radiações ionizantes, como ocorre nas tomadas radiográficas e tomográficas. Na Odontologia, a ultrassonografia (US) iniciou-se para avaliar as lesões subcutâneas de tecido mole e alterações das glândulas salivares maiores (parótida, submandibular e sublingual). Em 2016, Prof. Carlos Bettoni e sua equipe publicaram o primeiro artigo mundial sobre o tema, no qual descrevem o protocolo de US voltado para a cirurgia de bichectomia (vide QR CODE). Hoje, diversos profissionais utilizam o ultrassom na harmonização orofacial e nas cirurgias estéticas da face.
MEDICALYS: Como começou sua trajetória com a ultrassonografia?
PROF. CARLOS BETTONI: Devido a minha formação cirúrgica e de diagnóstico de doenças bucais, o ultrassom surgiu como um exame complementar nas alterações salivares, para determinar a presença de pedras ou cálculos nas glândulas salivares ou nos ductos que transportam a saliva até a boca. Em 2015, eu tive o privilégio de aprender a utilizar a técnica com um grande amigo e ultrassonografista Dr. Gui Mazzoni, de Belo Horizonte. Isso ocorreu quando, ao iniciarmos os estudos da técnica cirúrgica denominada de bichectomia, percebemos que apenas o exame clínico era insuficiente para definir quais pacientes teriam os melhores resultados estéticos. Assim, vimos a necessidade da realização de um exame que avaliasse a quantidade de volume e a relação da bola de Bichat com estruturas nobres (vasos sanguíneos). Diversos exames podem ser utilizados, tais como ultrassonografia, tomografia computadorizada e ressonância magnética, porém o exame de nossa escolha para a realização da cirurgia foi a ultrassonografia, pois poderia ser realizado em vários locais espalhados pelo país, sem radiação e com baixo custo. Desde então, utilizo essa tecnologia no diagnóstico e na tomada de decisão quanto aos procedimentos cirúrgicos e estéticos da face e pescoço.
MEDICALYS: Quais são as principais vantagens da US na prática da Odontologia?
PROF. CARLOS BETTONI: O ultrassom, apesar de ser bastante conhecido, veio para revolucionar o tratamento da harmonização orofacial e de cirurgias estéticas da face e pescoço. Como cirurgião, o que mais me preocupa é o que eu não consigo visualizar por meio do exame clínico. Na face e no pescoço, temos tecidos diversos (pele, músculos, artérias e veias, gordura, nervos, ligamentos e ossos) que, na grande maioria das vezes, são diferentes no mesmo paciente de um lado e de outro. Isso nós denominamos de variação anatômica. Além disso, as pessoas mastigam, dormem, apoiam a mão mais de um lado que do outro, o que pode levar a diferenças funcionais e estéticas de toda a face. Com a utilização do US podemos visualizar as diversas estruturas e camadas faciais, quantificar a espessura dos tecidos, a consistência da gordura (por exemplo, a bola de Bichat), avaliar hipertrofias musculares, a localização de artérias e veias, a presença de materiais utilizados anteriormente (como o Polimetilmetacrilato – PMMA), entre outras coisas. Desta maneira, eu consigo analisar com mais precisão as estruturas e, assim, durante a realização dos procedimentos, eu minimizo as intercorrências e os possíveis acidentes.
Outra situação ocorre nas cirurgias estéticas da face e pescoço. Através do ultrassom consigo ter valores de espessura, volume, localização dos vasos, etc.
Na cirurgia de bichectomia, o volume da bola de Bichat varia muito de pessoa para pessoa. Além disso, podemos ter a presença de artérias e veias importantes que podem estar atravessando essa região, podendo levar a sangramentos importantes. No pescoço, por exemplo, o músculo platisma, que se origina na região peitoral e se insere na pele da mandíbula, às vezes chegando até próximo aos músculos da boca, que podem não estar totalmente entrelaçados os lados direito e esquerdo, na linha média central, sendo facilmente visualizado com o exame.
Outro diferencial do exame de ultrassom é o Doppler que possibilita a avaliação do fluxo sanguíneo da região onde será realizado o procedimento.
Desta forma, através da ultrassom podemos visualizar as mais diversas estruturas, tornando mais previsíveis os procedimentos estéticos e cirúrgicos.
MEDICALYS: A realização deste exame provoca algum desconforto? O resultado é imediato?
PROF. CARLOS BETTONI: Não causa desconforto. As pessoas já se habituaram com a realização da ultrassonografia. O aparelho é igual aqueles que realizam o pré natal, durante a gravidez. Usamos um transdutor que é apoiado no local a ser estudado (face ou pescoço) e através da emissão e retorno das ondas sonoras há a formação de imagens. O exame é completamente indolor pois é superficial e não invasivo.
Quanto ao resultado, o exame já fornece evidências imediatas ao que se busca. Assim, determinamos a espessura, volume, distância de estruturas nobres da região a ser realizado o procedimento. Conseguimos inclusive, realizar procedimentos guiados pelo ultrassom, quando se deseja, por exemplo, dissolver produtos em excesso (preenchedores) e reverter isquemias por compressão ou embolia, causados por preenchedores.
MEDICALYS: O ultrassom, no consultório odontológico, veio para facilitar o atendimento dos pacientes?
PROF. CARLOS BETTONI: Não tenho dúvidas quanto a isso. Da mesma forma que é inimaginável a realização de cirurgias de remoção dentária sem radiografia, que atualmente está sendo complementada por exames tomográficos, a utilização do ultrassom traz mais segurança ao profissional durante a realização de procedimentos estéticos e cirúrgicos. Os melhores resultados são obtidos quando o profissional elimina a possibilidade de acidentes e uma maneira de se conseguir isso é através de exames que auxiliam no diagnóstico.
MEDICALYS: O exame de ultrassonografia é acessível a todos os pacientes?
PROF. CARLOS BETTONI: A tecnologia está acessível, sim. Existem aparelhos de ultrassom até manuais, que têm suas imagens avaliadas em smartphones. A resolução e qualidade da imagem são menores em relação ao ultrassom de bancada convencional. Cada vez mais, os clientes buscarão e terão acesso às tecnologias, já que os profissionais que trabalham com harmonização e cirurgias estéticas estão sempre buscando soluções confiáveis, com custos mais em conta e de alto poder de diagnóstico. Devemos sempre levar em consideração que quem ganha com a tecnologia é o próprio cliente e também o profissional, já que a segurança e qualidade dos procedimento propostos serão cada vez mais previsíveis e fidedignos.
Dr. Carlos Henrique Bettoni Cruz de Castro
Harmonização Orofacial
Cirurgia Bucomaxilofacial
Impante
CRO/PB 8625